O Diretor Executivo do Geoparque Oeste, Miguel Reis Silva, adianta em entrevista ao Estado com Arte Magazine que participava na conferência de mundial de geoparques da UNESCO em Marraquexe, quando ocorreu o sismo no dia 8 de setembro, em Marrocos.
O maior potencial geológico da zona Oeste são as formações geológicas únicas do período jurássico e cretácico, onde se destaca a Ponta do Trovão, em Peniche, as 13 novas espécies de dinossauros em todo mundo, bem como a maior concentração de ovos de dinossauro descobertos, segundo Miguel Reis Silva.
Esta candidatura de Geoparque Oeste acredita contribuir para que as autarquias mantenham ou aumentem os seus investimentos em áreas como a educação, o turismo, a ciência e a geoconservação.
No próximo ano na reunião executiva da UNESCO o Geoparque Oeste será aprovado na primavera.
“Felizmente estávamos no sítio certo à hora certa quando aconteceu o sismo. Não estávamos num sítio muito complicado, podia ter sido pior. Em Marraquexe há zonas centrais que podia ter sido complicado por causa das movimentações de massas. Eu estava no exterior e acabei por não ter uma experiência muito traumática ao contrário de colegas que estavam em outros edifícios que ficaram muito danificados, ou em que os edifícios abanaram muito”, relata Miguel Reis Silva ao Estado com Arte Magazine sobre o sismo em Marrocos.
Admite ter sido uma experiência “muito assustadora sentir a terra a tremer com aquela intensidade. Estávamos na zona exterior do hotel, sentir a terra a tremer e ver o hotel a abanar sem cair, se se prolongasse mais alguns segundos os danos seriam irreversíveis na estrutura, mas felizmente não aconteceu nada. Naquela noite por precaução ficamos a dormir numa zona exterior ao Hotel, mas no dia a seguir foi possível voltar aos quartos do Hotel. A situação ficou resolvida.”
A comitiva portuguesa não sofreu qualquer tipo de ferimento, nem ficaram desalojados, mas outros participantes no congresso “contam histórias de tudo: pessoas que acabaram por ir para outro hotel, há várias historias. A conferencia ocorreu no centro de conferencias de Marraquexe, ficou danificado.” As atividades previstas para aquele dia foram canceladas, as atividades de entregas de premio, de reconhecimentos e de revalidações de geoparque mundial da UNESCO, bem como de novos territórios de geoparques mundiais nestas conferências foram realizadas numa tenda, que utilizavam para as refeições, mas tudo foi feito com “toda a segurança, e sem qualquer problema”.
Na própria noite houve uma replica de nível 4 que não teve nada a haver com os 7. “Nós sentimos, mas foi uma coisa sem grande intensidade, nessa noite mais 30 replicas de baixa intensidade, mas o epicentro não era ali, era a cerca de 80 klms.” As construções antigas não estão adequadas a esta catástrofe, as casas são muito antigas e houve uma grande destruição.
“O hotel onde estávamos tinha cerca de 20 anos, a estrutura, ao nível daquilo que é o impacto do terramoto a estrutura adequou-se a este impacto, senão tinha caído. O edifício do hotel mexeu bastante, fez o movimento que tinha de fazer para libertar aquela energia acumulada, fez o seu trabalho. Mesmo dentro do hotel as fissuras que havia era nas zonas de compensação.”
Mas houve outros edifícios como o Centro de Congressos, um edifício mais recente do que o hotel onde o responsável desta comitiva portuguesa estava hospedado, e que ficou bastante danificado, vai levar alguns meses até ser reabilitado.
Candidatura do Geoparque Oeste à UNESCO
A Conferência Mundial da rede global de Geoparques da UNESCO tem como objetivo partilhar experiências, mas também ajudar a que outros territórios que estão a preparar candidaturas possam conhecer de perto o que está a ser feito por outros geoparques reconhecidos pela rede mundial há mais anos.
Uma conferência que contou com 1500 participantes, de 50 países, em 9 salas de comunicações, em simultâneo. Só a Comitiva do Geoparque Oeste levou 11 comunicações, com projetos que desenvolveram no último ano, tendo sido apresentado também na última conferencia europeia de Geoparques.
“Foi um momento de partilha para aprendermos todos, o que está a ser feito de novo. Para nós foi importante, porque na reunião executiva o relatório da vista técnica foi aprovado, quer dizer que no próximo ano na reunião do conselho executivo da UNESCO a nossa candidatura será revalidada, e seremos reconhecidos como Geoparque Oeste a nível mundial.
Importante para o nosso território e para Portugal que vê os geoparques aumentarem de 5 para 6. Será 1 momento importante para os 6 municípios que participam. Conhecimento de novos geoparques, num só lugar fazemos imensas viagens pelo mundo.”
O próximo congresso de geoparques será no Chile, pela 1ª vez terá lugar na América do Sul.
Os 4 geoparques portugueses que estavam em processo de revalidação viram a sua chancela aprovada, o que é “boa notícia para Portugal”, segundo Miguel Reis Silva.
Território do Oeste: um património natural único a preservar
Qualquer território tem de apresentar 1 ou mais locais de referência internacional, foram aprovados pela entidade internacional de geologia. A candidatura apresenta 22 geosítios de relevância internacional para a entidade internacional de geologia.
A zona da Ponta do Trovão, em Peniche, é reconhecida pela comunidade científica internacional como o melhor sítio do mundo para estudar uma das fases do período jurássico, há 2 sítios destes em Portugal ambos sobre o período jurássico: um fica na Ponta do Trovão e o outro no Cabo Mondego, que fica na Figueira da Foz. Em todo o mundo existem 68 Global Boundary Stratotype Sections and Points( GSSP’s) locais designados de Pregos Dourados.
“Temos locais no Oeste onde foram descobertos 13 novos dinossauros, ou seja, 13 novas espécies descobertas para a ciência”. Por isso o destaque para o Lourinhanosaurus antunesi, descoberto na Lourinhã. “Para além dos dinossauros temos os ovos e ninhos de dinossauros que são muito raros, em todo o mundo há cerca de 1 dúzia. 4 e um 5º em prospecção foram identificados e descobertos no Oeste, o que para alguns investigadores é a maior concentração de dinossauros do mundo está aqui.” Não só pela quantidade, mas pelo achado em si, em alguns ninhos é possível estudar o embrião dos dinossauros, os pequenos ossos e em sequência, descobriu-se o ninho, os ovos, embriões e o dinossauro adulto. O que é algo muito raro. Algo mais recente com alguns milhões de flores, na zona do Cercal.
Há muitos pontos muito importantes, porque estão numa “paisagem fantástica”, reconhecidos pela comunidade científica, e reconhecidos pela UNESCO, como património natural a manter e preservar.
Participam no Projeto de candidatura à UNESCO a Associação Geoparque do Oeste a Universidade Nova DE Lisboa, o Museu da Lourinhã e Sociedade de Histórica Natural de Torres Vedras, entidades fundadoras da AGEO – Associação Geoparque Oeste – juntamente com outras pessoas em nome individual.
Fazem parte do Conselho Científico do Geoparque 1 conjunto de especialistas ligados a diferentes áreas: geologia, paleontologia, geografia, ordenamento do território que contribuem de forma decisiva para 1 “candidatura sólida”.
Para Miguel Reis Silva “só é possível avançar com esta candidatura devido a autarquias e a entidades que trabalham paleontologia no território há mais de 40 anos”.
Integram o aspirante Geoparque Oeste os municípios de Bombarral, Cadaval, Caldas da Rainha, Lourinhã, Peniche e Torres Vedras.
Miguel Silva Reis destaca na zona Oeste o património cultural (as tradições e costumes), mas também o seu património natural. “Entre outros destacamos a temática e história da Rainha D. Leonor e do termalismo, os bordados, a gastronomia local, as loiças e faianças, a cutelaria, as artes, o património religioso, os museus e espaços de interpretação. Mas também os vales e miradouros, as praias, a Lagoa de Óbidos, a duna de Salir, as pegadas de dinossauros, o termalismo, entre outros.”
Para além dos municípios, esta candidatura conta com mais de 150 parceiros, entre entidades públicas e privadas, mas também empresas, escolas, universidades e outras entidades estrangeiras.
“Pretendemos que todo este território seja num primeiro momento reconhecido como Geoparque Mundial da UNESCO, um dos três programas UNESCO de valorização do património natural e cultural, mas também a valorização, reconhecimento e divulgação deste território, por quem vive e visita o Oeste. Temos um território único, cuja salvaguarda tem de passar pelo seu reconhecimento e valorização por todos aqueles que vivem, gerem e visitam o Oeste.”
Está comprovado que um território depois de ser reconhecido como Geoparque Mundial da UNESCO, a sua procura em termos de turismo, de novos negócios, de local para residir, procura de instalação de novos serviços de ciência aumenta substancialmente. Assim, acreditamos que este projeto é uma das estratégias mais impactantes que a Região Oeste alguma vez assumiu, no sentido de que trará de forma continuada e prolongada no tempo uma procura pela região e essa procura em diferentes áreas irá traduzir-se num aumento dos negócios locais, e com isso será um contributo importante para a revitalização de territórios interiorizados, mas também de outros que procuram novas formas de atratividade.
Por outro lado, irá contribuir para que as autarquias mantenham ou aumentem os seus investimentos em áreas como a educação, o turismo, a ciência e a geoconservação e isso é muito importante para um território que pretende desenvolver-se através da valorização do seu património natural e cultural.
A candidatura da zona Oeste a Geoparque Mundial da UNESCO foi aprovada, aguarda agora a validação do Conselho Executivo da UNESCO, prevista para a primavera de 2024.